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ARTE

Generosamente, aproveitando o tempo e transbordando

"Generosamente, aproveitando o tempo e transbordando"

Barra de Guaratiba, Brasil. 14 de janeiro de 2023 (arquivo pessoal)

 

 

“Um caminhão enquanto fazia a curva, tombou e boa parte do seu carregamento foi parar na pista. Não sei ao certo o que ele carregava, mas de uma coisa eu sei, ele não chegou ao seu destino.”  

 

 

    Em março do ano passado em uma viagem que fizemos de carro pelo Brasil, estávamos voltando de Bom Jardim da Serra em Urubici-SC/ Brasil, retornando para nossa casa, após dias de viagens, acampamentos e wadi camps. A chuva caia de forma contínua, a visibilidade era boa e por isso, seguimos nosso percurso. Já descendo a serra, vimos pisca-alertas, carros parados e muito trânsito, achamos estranho, pois ainda era cedo e o dia acabara de nascer. Um caminhão enquanto fazia a curva, tombou e boa parte do seu carregamento foi parar na pista. Não sei ao certo o que ele carregava, mas de uma coisa eu sei, ele não chegou ao seu destino. 
 
   Para cobrir óleo derramado do caminhão foram colocados serragem e então continuamos nosso percurso e um pouco mais a frente, enquanto fazíamos uma curva, a beira de um precipício, nosso carro perdeu a aderência com o chão. Me segurei no banco e pedindo a Deus por nossas vidas, olhei para meu lado esquerdo e vi Daniel dando voltas e mais voltas no volante a fim de tentar estabilizar a direção do carro e de alguma forma nos fazer parar. Nosso carro rodou na pista em cento e oitenta graus, fazendo com que ficássemos parados na mão contrária a correta e a menos de um palmo do precipício. Paramos por milésimos de segundos quando eu disse a ele ainda em estado de choque, para sairmos da contramão. Ele acelerou o carro e voltamos para a pista no sentido correto.           
 
   Não sei ao certo quanto tempo durou tudo ali, mas tive a sensação de que vivemos em uma cena de filme, minha percepção pareceu ver aquela cena em câmera lenta. E nós só poderíamos agradecer à Deus por esse livramento. Nosso carro não teve nenhum arranhão, mas certamente se tivéssemos encontrado aquela mureta, não estaríamos vivos, muito menos eu estaria neste exato momento escrevendo esse texto. 
 
   Me fiz muitas perguntas e até hoje esse dia me faz refletir tanto sobre a brevidade de nossas vidas, de que forma eu tenho desfrutado do pouco tempo que me resta? Eu tenho perdido tudo no caminho como aquele caminhão tombado fez? Ou Tenho permitido me refazer e aprender com as experiências que tenho vivido? O que eu tenho feito com a minha vida?  O que acontecería se tivéssemos morrido naquela manhã?  O que vai acontecer agora, que ainda estou aqui? 
 
   Depois de vivermos alguns momentos que certamente não temos controle de nossas vidas, compreendemos que ela é um sopro.  Sou muito grata a Deus pela vida que Ele me presenteou, pelas pessoas e experiências que eu tenho vivido ao longo da minha jornada. Mas se tem uma coisa que aprendi com esse acidente é que minha vida é o aqui e o agora. E por isso meu desejo é transbordar e viver generosamente aproveitando o tempo. 
 

Escrito por Mariane Maia, em 19.01.2023, Rio de Janeiro-Brasil

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